quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Fotografias recortadas em jornais de folhas amiúde

Um chavão da publicidade bem conhecido: "Imagem não é nada. Sede é tudo."
O comercial do refrigerante Sprite tentava descontruir a linguagem da publicidade tradicional, onde realmente a imagem é tudo. Mas não seria essa tática mais uma forma de manipulação por meio da imagem? Enfim, não cabe aqui discutir sobre discursos (soa até meio estranho) metalinguísticos na publicidade.
Onde quero chegar?
No papel e poder que a imagem exerce sobre comportamentos, percepções acerca do mundo e do meio em que vivemos. A imagem pode ter inúmeras conotações, desde uma simples fotografia, um desenho em uma aula de educação artística, uma pintura pré-histórica, um santo (sim, muito se refere a uma imagem de tal santo), também pode se referir a uma idéia, um significado mais abstrato: "imagem de bom moço, imagem de honesto". A imagem pode também estar ligada à moda, a como uma pessoa se veste ou como se comporta.

Mas qual o foco aqui então?
Entre tantos tipos de imagens vou falar mais especificamente sobre a tradicional fotografia, que talvez não seja tão "simples" quanto me referi no parágrafo anterior, e como ela pode estar inserida na área da informação, seja: a) por seu uso, b) seu tratamento ou c) sua preservação.

Que tal dar uma olhada neste link antes (sem olhar os comentários e a descrição da foto!!): Imagem não é nada?

Olhou? E agora? O que teria a comentar? Olhe de novo e veja os comentários e a descrição.
Num primeiro momento o título já indica perfeitamente (e ironicamente) qual o conteúdo da foto, mas isso é apenas um pouco de toda uma realidade que a foto traduz.

Uma foto está impregnada de informação e sua importância é indiscutível. Desde o seu início, no início do século XIX, o mundo da fotografia foi permeado de polêmicas e, porque não, de misticismo. Alguns pensavem inclusive que sua alma poderia ser aprendida com uma foto, ficaria presa então no papel. (BOONE, 2007).

Como Oliveira (2006) destacou em seu texto, foi o fotojornalismo, no século XX, que retirou a fotografia tradicional de seu sossego. Levaram 100 anos para que os processos iniciais se modificassem e, no entanto, em menos de 20 anos, vemos um progresso muitas vezes superior a esse, num intervalo de tempo muito menor. Essa relação entre o tempo e a evolução das tecnologias já foi comentada nos posts sobre os blogs, mas merece também referência aqui pois a fotografia é elemento-chave do mundo atual. A fotografia digital surgiu até mesmo antes das ferramentas e, ao que parece, trouxe consigo, principalmente no que se refere ao jornalismo, a noção de instantaneidade que faz base à todas as demais ferramentas.

Nos fotologs (tema que não foi tratado com especificação aqui neste blog) a questão da imagem é bem enfatizada e mostra um aspecto de banalização da fotografia tendo o fotolog como uma ferramenta basicamente narcisista: "Ver e ser visto na internet, esta é a frase de ordem atualmente" (FRANÇOIS; GARRIDO, 2007, não paginado). 

Os autores expõem melhor a questão do egocentrismo trazendo o posicionamento de Gilberto Dupas: "Na atual cultura do narcisismo e da exaltação gloriosa do eu, as mídias se destacam como instrumentos fundamentais para a afirmação egóica. A cultura da imagem é o domínio da aparência como possibilidade de sedução e fascínio do outro" (DUPAS, 2003* apud FRANÇOIS; GARRIDO, 2007).

Seguindo a linha de raciocinio da projeção do EU virtual, um aspecto que os autores também destacam é a questão da memória, como os indivíduos que se utilizam de ferramentas como flogs constrõem sua idéia de memória por esses meios:
[...]construir uma identidade, uma memória virtual na percepção de outro gera ao individuo a garantia de uma sensação de sobrevivência na memória virtual do espectador, e consequentemente a idéia de ter sido registrado enquanto alguém único, com valores e subjetividades próprias na percepção de outra pessoa [...] (FRANÇOIS; GARRIDO, 2007, não paginado).
Pensar que, mesmo os adolescentes em seu estado de egocentrismo, tem uma noção de memória já entra nas duas outras áreas da informação citadas acima: tratamento e preservação.

Sobre isso, falarei mais no próximo post.

*DUPAS, Gilberto. Tensões Contemporâneas entre o público e o privado. São Paulo: Paz e Terra, 2003.


Mùsica que deu origem ao título do post: Chão de Giz - Zé Ramalho

REFERÊNCIAS

BOONE, Silvana. Fotografia, memória e tecnologia. Conexão - Comunicação e Cultural, Caxias do Sul. v.6, n.12. jul./dez., 2007. Disponível em: http://www.ucs.br/etc/revistas/index.php/conexao/article/viewFile/160/151. Acesso em 30 out. 2010.

FRANÇOIS, Elias; Susane, GARRRIDO. O universo virtual: o fotolog como novo espaço de sociabilidade. In: Congresso Internacional de Qualidade em EAD. São Leopoldo, 2005. Disponível em: www.ricesu.com.br/ciqead2005/trabalhos/30.pdf. Acesso em: 30 out. 2010.

OLIVEIRA, Erivam Moraes de. Da fotografia analógica à ascensão da fotografia digital. BOCC. Biblioteca On-line de Ciências da Comunicação, Portugal, 2006. Disponível em: http://www.bocc.ubi.pt/pag/oliveira-erivam-fotografia-analogica-fotografia-digital.pdf. Acesso em: 30 out. 2010.

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