quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Qualidade na WEB 2.0?

Nos post anteriores falei um pouco sobre avaliação de mídias, algumas ferramentas para avaliar as novas ferramentas de construção colaborativa mas não contextualizei a questão principal: afinal, como e porque avaliar as fontes de informação da internet?

As fontes na internet são várias, mas aqui o foco são as mídias digitais. 
Por onde começar a pensar? 
Ao contrário das mídias tradicionais, com sua "reputação" bem consolidada, as novas ferramentas da WEB 2.0 tem grandes problemas no que diz respeito a sua qualidade e confiabilidade, entre esses problemas está a autoria.

Claro, um cientista pode ter um blog e isso, certamente, agregará valor a essa fonte de informação mas e quanto aos demais?

Conforme Alvim (2007), é a capacidade de selecionar informação com qualidade que determinará o êxito do indivíduo na sociedade do conhecimento (mais avançada que a sociedade da informação) e essa qualidade é determinada pela capacidade de satisfazer as necessidades de informação desse indivíduo. A partir dessa afirmação o que se pode perceber é que uma coisa engendra a outra.

No sentido da autoria e da organização, por exemplo, algo que começa a surgir é o IBSN, à semelhança do ISBN, um número que identifica um periódico, agora um número identifica um blog. Essa ferramenta tem o objetivo de garantir o direito dos autores sobre a informação publicada, facilitando a referenciação dos conteúdos do blogue (SOUSA et al., 200?). Mas apesar dessas "certificações" que os autores podem buscar para agregar valor as informações que publicam, serão os leitores que determinarão o sucesso de cada blog. A qualidade então será definida de baixo para cima.

Primo (2010) destaca sobre a questão da autoria que, nesse tipo de construção do conhecimento, ganha força a livre criação e a organização distribuída de informações compartilhadas por associações mentais. Para o autor, o que importa nessas ferramentas não é a especialização individual: a credibilidade e a relevância dos conteúdos virão a partir da constante dinâmica de construção e atualização coletiva. Ou seja, mil olhos atentos a corrigirem erros de publicação serão responsáveis pela confiabilidade da informação e não mais um único profissional especializado será reconhecido por isso.

Mas Primo também dirá que esse processo não exclui a regulação e as relações de poder e traz o que poderia se chamar de Gestão Coletiva do Trabalho Comum, uma conscientização de todos para evitar vândalos, confusões, erros e outros problemas comuns. Nesse sentido entra a moderação na web, necessária pois, como em qualquer outro tipo de publicação mas nesse tipo de construção em especial um fator que ganha destaque, como bem se refere o autor: "a coletividade não é composta só de altruístas" (PRIMO, 2010, p. 18).

Por esses "problemas" na construção colaborativa de conhecimento, na grande disponibilização de informação num universo tão grande quanto a imaginação possa ter limites é que se faz necessária a avaliação, a criação de estratégias para conseguir tornar mais eficaz o processo de busca da informação na web pois, "sem uma boa organização um blog é apenas mais um ruído no meio do barulho da multidão" (SOUSA et al. 2007, p. 94).

Na problemática da autoria a preocupação é também com a cópia e uso indevido das informações disponibilizadas pois diante de tanta variedade se torna impossível pedir autorização para uso de todas. A discussão nessa área é muito focada na questão dos direitos autorais e propriedade intelectual e foge um pouco da proposta deste espaço, assim, no blog Cópia na Pasta, é possível encontrar mais informações sobre essa temática. 

Sobre a Wikipédia...
Um exemplo prático da questão da autoria é a polêmica  que gira em torno de citar ou não citar a Wikipédia nos trabalhos acadêmicos. Com sua natureza de construção colaborativa a Wikipédia perde seu status se for comparada às grandes enciclopédias tradicionais, mas, no entanto, existem controvérsias a respeito. 

Alguns professores e pesquisadores ainda estão receosos quanto à confiança que se pode depositar numa ferramenta onde a autoria não é uma pessoa, não é um pesquisador renomado, e sim, toda a comunidade da WEB. Mas esse é um motivo que, ao contrário, pode fazer dela uma fonte mais confiável: como colocar algo errado se existem milhões de usuários do outro lado monitorando essa informação, prontos a todo momento corrigir uma informação errada.
São duas correntes contrárias, alguns encorajando o uso formal da Enciclopédia colaborativa exatamente para incentivar esse tipo de mídia, que é o retrato da WEB 2.0 e das novas formas de comunicação, e de outro lado alguns recomendando o inverso, que não se usem citações desse tipo pois reduz a qualidade, a seriedade e a legitimidade de um trabalho.

Incentivar o uso responsável dessas ferramentas entre usuários comuns não seria uma forma de assegurar cada vez mais a qualidade e a avaliação  "por pares"  dessas informações construídas coletivamente?

Um dado interessante é encontrado num estudo feito com professores da área das Ciências Sociais e Humanas de Portugal. Rosa (2008) apresenta que a Wikipédia é a segunda fonte de informação mais utilizada pelos professores e pesquisadores que compuseram a sua mostra (56%). Em primeiro lugar ficaram os jornais e em terceiro os blogs. Os demais resultados da pesquisa foram surpreendentes no que tange o acesso e utilização das ferramentas de comunicação da Web em pesquisadores de primeiro mundo. O autor aponta o fato de que a internet como um todo era vista como algo das "ciências duras" e por isso era uma realidade distante dos profissionais das humanas.

Mesmo com esse atraso é de se destacar os números sobre uso da Wikipédia no meio acadêmico.

Jimmy Wales (2009), o fundador da Wikipédia, numa entrevista no final de 2009 se referia a criação coletiva na internet:
A capacidade de estimular a criação coletiva é uma das características mais fascinantes da internet. Em vez de apenas inserirem informações aleatórias, as comunidades estão se unindo para construir em conjunto algo de melhor qualidade. Estamos só no começo desse processo. No futuro, muitas inovações vão surgir dessa forma.
Como ele mesmo se referiu na entrevista, o objetivo da Wikipédia é humanitário, a oferta de uma enciclopédia gratuita para todos os povos na sua própria língua.  Por esse motivo o  colaborador deveria se motivar ainda mais a escrever algo de qualidade  sabendo que a  informação que disponibilizar será útil para muita gente.

As restrições, ao que parece, se encontram baseados muito mais por uma desconfiança de um projeto tão grandioso ser sem fins lucrativos, como se não pudesse haver informação confiável oriunda apenas da boa vontade, solidariedade ou "espírito coletivo" e também num apego muito grande ao tradicionalismo.

REFERÊNCIAS 

ALVIM, Luisa. A avaliação da qualidade de blogues. CONGRESSO NACIONAL DE BIBLIOTECÁRIOS, DOCUMENTALISTAS E ARQUIVISTAS, 9. Lisboa, 2007, 21. Disponível em: http://badinfo.apbad.pt/Congresso9/COM105.pdf. Acesso em 10 out. 2010.

PRIMO, Alex . O aspecto relacional das interações na Web 2.0. E- Compós (Brasília), v. 9, p. 1-21, 2007. Disponível em: http://www6.ufrgs.br/limc/PDFs/web2.pdf. Acesso em: 20 out. 2010.

SOUSA, Paulo Jorge, et al. A blogosfera: perspectivas e desafios no campo da Ciência da Informação. Cadernos BAD, 2007. Disponível em: http://repositorium.sdum.uminho.pt/handle/1822/7797. Acesso em: 20 out. 2010.

WALES, Jimmy. O rival da britannica. Veja, ano 42, n. 50. dez 2009, p. 19-35. Disponível em: http://veja.abril.com.br/acervodigital. Acesso em: 01 out. 2010.

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